terça-feira, 7 de julho de 2015

O que separa um filme que é "ruim mas é bom" de um filme apenas "ruim"?

Existem duas categorias especiais de filmes ruins conhecidas pelos cinéfilos em geral.
A categoria de filme "ruim mas que é bom" e o filme que é apenas ruim.
Todos sabemos por exemplo que a graça de filmes Trash é justamente por eles serem muito mal feitos mas que a experiência de assisti-los é surpreendentemente divertida.
Os filmes apenas ruins também são mal feitos mas tem pretensão de se levarem a sério. Nessa tentativa os defeitos não são expostos honestamente, como ferida aberta, mas apenas mal disfarçados. Isso você percebe bem quando o filme tenta criar uma trama complexa mas é burro demais para isso ou quando tenta criar momentos de tensão e o diretor simplesmente não tem o menor talento. A experiência torna-se frustrante para o expectador e esse desconforto em particular é o que vai determinar o saldo negativo do filme, sem nenhum porém.

Na franquia Sexta-Feira 13 temos 3 filmes em sequência que exemplificam isso.
Sexta-Feira 13 Parte VIII - Jason Ataca Nova York (1989), Jason Vai Para O Inferno : A Última Sexta Feira (1993) e Jason X (2001).
O primeiro filme é um exemplo perfeito de filme que é "ruim mas é bom" e os outros dois são apenas ruins.

Jason Ataca Nova York - Poster


Sexta-Feira 13 Parte VIII - Jason Ataca Nova York (1989) é o oitavo filme da franquia e o último filme da série a ser distribuído pela Paramount Pictures. 
Neste filme Jason ressuscita depois da âncora de um barco atingir um cabo de eletricidade (acontece) que serpenteava o Crystal Lake. 
Esse barco é invadido por Jason que mata as pessoas e acaba sendo levado até Nova York. Acontece mais coisas nesse tempo, mais da metade do filme ocorre durante a viagem, mas o que importa mesmo é ver ele na movimentada Manhattam, na cidade que nunca dorme, e é nisso que o filme se vende.
A imagem em si já é interessante. Jason, conhecido por andar sempre no meio dos sombrios e arborizados arredores de Crystal Lake, é colocado, de repente, numa selva de pedra cheia de luzes de neon e propaganda de refrigerantes. Ele anda pelas vielas, pelos metrôs e mostra o submundo nova-yorkino com ladrões, putas, punks, arruaceiros e mendigos. A cenografia é bastante interessante, com fumaças tóxicas saindo dos bueiros e lixo para todo lado. Nova York é um personagem vivo do filme junto com Jason.

Jason Ataca Nova York - Cenas

Jason Ataca Nova York - Cenas

Jason Ataca Nova York - Cenas

Ele não dá medo em nenhum momento, é um ícone pop e esse filme parece celebrar isso.
De todos os filmes da série esse foi o que levou o esteriótipos dos personagens ao extremo, ao ponto de ficar caricatural. Como não lembrar da guitarrista de Hard Rock que morre logo no começo do filme? De tão artificial aquilo chega a ficar interessante. 
Por falar em Hard Rock a trilha sonora é sensacionalmente datada com canções que caminham entre o Hard Rock e o Pop dos anos 80.
Não dá para considerar esse filme de horror, algumas cenas são tão hilárias que esse filme parece caminhar muito mais numa mistura de comic-slasher de humor negro e trash movie do que qualquer outra coisa. Por mais que muita gente não tivesse gostado desse filme ele parece que não foi bem compreendido. Não é possível que um filme desse se leve a sério, quando você também não leva a sério pode se divertir bastante.

Abaixo, algumas cenas divertidíssimas do filme:




Coisa que simplesmente não dá pra fazer em Jason Vai Para O Inferno : A Última Sexta Feira (1993), nono filme da franquia, a primeira sequencia a ser distribuída pela New Line Cinema e a segunda contendo "Final" no nome.
Vamos falar um pouco do filme. Esse filme reinventa Jason, dando um caráter sobrenatural a história.
No filme Jason é emboscado pelo FBI e feito em pedaços. Seu corpo é levado para um necrotério e o medico legista, responsável pela autópsia e estudo, acaba sendo possuído por um espírito estranho e devora o coração de Jason permitindo que a personalidade de Jason tome seu corpo. Uma nova série de assassinatos acontece, deixando intrigados aqueles que acreditavam que Jason estava morto. O segredo da maldade de Jason é revelado, ele é um demônio. Sabe a minhoca do inferno que está no poster do filme? Então, ela é o Jason. Essa minhoca do inferno vai passando de corpo em corpo e, para que Jason retorne ao corpo original, o último descendente da família Voorhees precisa morrer. Último descendente? Como assim? Então! É revelado, também, no filme, que Jason tem uma irmã e esta é a única que pode dar fim a maldição.

Jason Vai para o Inferno - Poster

A direção é de Adam Marcus e o projeto contou com a participação de Sean S. Cunningham, diretor do primeiro filme.
É interessante esse filme ter a participação do diretor original pois isso não ajudou em nada. O filme simplesmente ignora fatos dos filmes anteriores. O principal é que Jason, agora, tem um irmã. Como assim? Pamela Vorhees no primeiro filme deixou bem claro que Jason era o "seu único filho". Era isso que dava toda a dramaticidade da personagem.
Mas não é apenas isso que incomoda no filme. O filme sofre um mal muito comum nos filmes comerciais norte-americanos: ele não tem história apenas explicações. De repente você tem um caçador de recompensas que sabe todos os segredos do Jason. De repente você tem um punhal sagrado que é o único objeto capaz de matar Jason e mandá-lo para o inferno. De repente você fica sabendo que Jason precisa matar a irmã e a sobrinha (ah! Jason tem sobrinha) para voltar ao seu corpo original.
Para completar a onda de clichês só falta colocar a história de Jason como a "realização de uma antiga profecia" e ter "um escolhido".
A única ideia legal do filme é que no final (ALERTA SPOILER) Freedy agarra a máscara de Jason, que tinha sido mandado para o inferno, prometendo um "beatdown" que iria se consolidar mais pra frente no divertidíssimo "Freddy vs Jason" em 2003.
Resumindo, um filme ruim que é apenas ruim.

Jason X - Poster

Outro filme ruim, não tão ruim quanto esse, virá mais tarde em Jason X, lançado em 2001.
Depois de explorar o terror sobrenatural a franquia agora tenta alcançar o espaço. Jason X, dirigido por James Isaac, tenta fazer um diálogo com a ficção-científica.
O filme se passa em 2455, a Terra que conhecemos foi destruída. Temos uma nave de exploração que localiza um antigo laboratório de um centro de pesquisas feito no antigo acampamento Crystal Lake. Eles mantinham Jason Vorhees como objeto de estudo para tentar descobrir por que ele não morria e sua capacidade "Wolverinica" de regenerar tecidos danificados. Aconteceu um incidente, Jason acabou matando alguns cientistas e policiais, mas foi acidentalmente congelado enquanto perseguia uma de suas vítimas. Jason é então trazido para nave e descongelado.
Todd Farmer, é o roteirista principal (ele atua também). Ele diz que se inspirou muito em Alien para fazer esse filme, o que fica bem evidente. Temos um assassino percorrendo e matando em silêncio os corredores de uma nave, temos um Android, a tech-droid KAY-EM 14, temos a solidão paradoxalmente claustrofóbica do espaço, onde "os gritos não podem ser ouvidos", enfim, o filme parece que tenta aproximar-se de Alien utilizando Jason como títere.
O filme, no entanto, não consegue, nem de longe, honrar o terror psicopata de Sexta-Feira 13 ou científico de Alien. 
O interessante do filme é que ele teve a equipe original trabalhando em seu background. Temos Sean S. Cunningham, o diretor do filme original, na produção executiva. Temos Victor Miller, escritor original, no roteiro, junto com Todd Farmer. Como esse filme pode ter ficado tão ruim é um mistério. De pontos positivos podemos citar que algumas mortes são bem violentas e brutais, mas não compensam um filme que se perde em piadinhas, péssimas ideias e cenas ridículas. E o que é pior, se leva a sério.

Em suma: 
Que venham mais "Sexta-Feira 13 Parte VIII" e menos "Jason Vai Para O Inferno" ou "Jason X". 


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