A ficção científica tem, no Brasil, algumas idiossincrasias curiosas. Uma delas é ter, entre seus os autores mais destacados, escritores que pouco foram publicados aqui. Esse é o caso de um dos mais importantes nomes do gênero, Frederik Pohl.
Frederik George Pohl Jr. nasceu em 26 de novembro de 1919 na cidade de Nova York. Passou a infância morando em diversas regiões do Texas, Califórnia, Novo México e Panamá, até que sua família fixou residência no bairro do Brooklyn, em sua cidade natal. Ainda adolescente, Pohl ajudou a fundar o lendário grupo de fãs de ficção científica Futurians, do qual também fez parte o escritor Isaac Asimov, a quem ajudou no início de sua carreira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Pohl serviu no 456º Grupo de Bombardeiros, na Itália.
Pohl trabalhou como agente literário de alguns e seus colegas e foi editor de várias revistas do gênero, sendo premiado diversas vezes pelo seu trabalho à frente das revistas If e Galaxy, nos anos 1960.
Teve sua própria coleção na Bantan Books, a Frederik Pohl Selections, e dedicou-se intensamente à diversas instituições ligadas à ficção-científic. Como escritor, estreou na Amazing Stories em 1937 com o poema "Elegy to a dead satellite: Luna", publicado sob o psedônimo Elton Andrews.
Pohl desenvolveu muitos trabalhos em parceria, principalmente com seu amigo futuriano Cyril M. Kornbluth, também com Jack Williamson, e até concluiu um romance inacabado de Arthur C. Clarke, The last theorem,
publicado em 2008.
Sua ficção tem características de crítica política e social – reflexo de suas convicções socialistas – e, não
raro, de um tom acidamente satírico.
Seus trabalhos mais importantes são os romances Man Plus (1976, vencedor do Nebula), Gateway (1977, Hugo e Nebula) e Jem: The making of an utopia (1979, National Book Award); nenhum deles teve edição no Brasil. Tivemos aqui apenas três trabalhos do mestre: Dia milhão (Day million, 1970), Nave escrava (Slave ship, 1956) e Os mercadores do espaço (The space marchanters, 1953, em parceria com Kornbluth), em edições pela José Olympio, Hemus e Edart, respectivamente, todas esgotadas.
O que fez de Pohl um autor conhecido no Brasil foram as muitas traduções portuguesas, especialmente pela Coleção Argonauta, que teve aqui inúmeros leitores. Algumas de suas ficções curtas também apareceram em antologias e revistas.
O autor esteve pelo menos duas vezes no Brasil.
A primeira, no lendário I Simpósio Internacional de Ficção Científica, realizado em 1969 no Rio de Janeiro pelo Instituto Nacional do Cinema, e novamente em 1989, a convite da Editora Aleph. Ao lado da esposa, Elisabeth Anne Hull, e do então editor da Locus Magazine, Charles N. Brown, o autor se encontrou com leitores e fãs em São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1992, Pohl foi nomeado Grande Mestre pela Science Fiction Writers of America e, em 1998, entrou para o Science Fiction Hall of Fame. Seu último trabalho foi a novela All the lives he led, publicada em 2011.
Seu interesse pela ficção científica sempre teve um importante componente de fã e, mesmo como autor consagrado e influente, recebeu em 2012 um prêmio Hugo pelo trabalho de escritor-fã que realizava no blogue The Way the Future Blogs.
Frederik Pohl morreu na tarde do dia 2 de setembro, aos 93 anos, após uma grave crise de insuficiência respiratória. Sua importante obra ainda está por ser descoberta pelos editores brasileiros e, principalmente, pelos leitores das novas gerações.
O escritor norte-americano Jack Vance foi outro gigante da ficção fantástica que nos deixou neste ano, mais exatamente no dia 26 de maio.
John Holbrook Vance nasceu em 28 de agosto de 1916, em São Francisco, no estado da Califórnia, mas logo mudou-se com sua mãe e irmãos para a fazenda de seus avós, próxima a Oakley, depois que seus pais se separaram. Com a morte dos avós, Vance teve que deixar os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas da casa. Mais tarde, estudou engenharia, física e jornalismo na Universidade da Califórnia, quando escreveu sua primeira história de ficção científica para um trabalho no curso de Inglês, e recebeu do professor a sua primeira crítica preconceituosa.
Vance trabalhou como eletricista em Pearl Harbour, mas deixou o emprego pouco antes do ataque japonês. Não foi aceito nas forças armadas devido a problemas na visão, mas tornou-se marinheiro mercante, profissão da qual herdou o gosto pela navegação marítima, que praticou por toda a vida.
Vance também era músico de jazz, tocava banjo, trompete, gaita e muitos outros instrumentos. Tanto a música quanto o mar foram temas constantes em suas histórias. Vance era amigo pessoal de Frank Herbert e Poul Anderson, a ponto de terem juntos construído um barco, com o qual navegavam nos rios e lagos da região onde moravam.
Um pouco por influência desses importantes autores de ficção-científica foi que Vance passou a também escrever e publicar no gênero. Sua primeira história foi "The world-thinker", publicada em 1945 na revista
Thrilling Wonder Stories, mas ele também escreveu histórias de mistério e fantasia, inclusive três livros sob o famigerado pseudônimo coletivo Ellery Queen.
Vance era membro da Swordsmen and Sorcerers' Guild, comunidade de escritores comandada por Lyn Carter, dedicada a promover o gênero Espada & Feitiçaria. Seus maiores sucessos foram as séries de fantasia The Dying Earth, e de ficção científica The Demon Princes. Foi premiado pelos romances The dragon masters (1963; Hugo) e The Last Castle (1967; Hugo e Nebula). Também ganhou um Edgar (o
Nebula do mistério) por The man in the cage (1961), bem como dois World Fantasy, um em 1963, por Lyonesse: Madouc, e outro, em 1984, pelo conjunto da obra. Entrou para o Science Fiction Hall of Fame em 2001 e ainda ganhou mais um Hugo, em 2010, por sua autobiografia This is Me, Jack Vance!
Muitos de seus livros foram publicados no Brasil, entre eles o premiado The dragon masters (O planeta dos dragões). Também foram traduzidos três dos cinco títulos da série The demon princes: Star king (The Star King), A máquina de matar (The killing machine) e O palácio do amor (The palace of love). Da série The dying Earth foi editado apenas um, A agonia da Terra (The dying Earth); e da série Alastor foi traduzido apenas o segundo volume, Marune: Alastor 933 (Marune: Alastor 933).
E ainda, os romances independentes O planeta duplo (Maske: Tahery) e o divertidíssimo Ópera interplanetária (Space opera), bem como uns poucos contos em antologias. Outros títulos também podem ser encontrados em edições portuguesas.
Cego desde 1980, Vance não parou de escrever, sendo seus últimos trabalhos o romance de ficção cientifica Lurulu, publicado em 2004, e a já citada autobiografia, publicada em 2009.
Vance morreu de causas naturais em sua residência, em Oakland, no dia 26 de maio de 2013, aos 96 anos.
Texto retirado da 151ª edição da revista Juvenatrix; com textos do blog Mensagens do Hiperespaço
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